SÃO PAULO (Reuters) – O dólar subia frente ao real nesta terça-feira, apesar de um acordo para elevar o teto da dívida dos Estados Unidos, em meio a dúvidas sobre a tramitação do texto no Congresso norte-americano, expectativas crescentes de mais aperto monetário pelo Federal Reserve e possibilidade de redução dos juros no Brasil ainda este ano.
Às 10:15 (horário de Brasília), o dólar à vista avançava 0,73%, a 5,0480 reais na venda, abandonando perdas iniciais. Na B3 (BVMF:B3SA3), às 10:15 (horário de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 0,56%, a 5,0490 reais.
Segundo alguns participantes do mercado, o alívio após um calote do governo dos Estados Unidos ter sido possivelmente evitado dava lugar a temores de que o acordo sobre a dívida enfrentará uma trajetória complicada no Congresso. Uma série de parlamentares republicanos de linha dura disse na segunda-feira que vai se opor ao projeto de lei.
Matheus Pizzani, economista da CM Capital, disse que, embora haja alguma dissipação dos temores sobre a dívida que vinham impulsionando o dólar nas últimas semanas, a percepção sobre a condução da política monetária nas principais economias impede que o alívio afete de forma significativa os mercados emergentes.
Entre outros exemplos, ele citou a possibilidade crescente de que o Federal Reserve não encerre seu ciclo de aperto monetário em seu encontro de 13 e 14 de junho, como era precificado pouco tempo atrás.
“O que a gente vê é o Fed muito comprometido com o patamar de 2% (de inflação), que ainda está muito distante; você tem vários indicadores de que, se não mantiverem uma postura rígida, não conseguirão levar a inflação para a meta”, avaliou Pizzani, que vê grandes chances de o banco central norte-americano pausar o aperto monetário na próxima reunião para avaliar o estado da economia e, depois, no encontro seguinte, voltar a subir os juros.
Quanto mais altos os juros nos EUA, mais o dólar tende a se beneficiar globalmente do redirecionamento de recursos para o mercado de renda fixa da maior economia do mundo.
Ao mesmo tempo, disse Pizzani, sinais de arrefecimento da inflação e retração do crédito no Brasil têm reforçado expectativas de que o Banco Central reduzirá a taxa Selic a partir do segundo semestre deste ano, o que “acaba não beneficiando tanto o real”, uma vez que implicaria rendimentos menores oferecidos pelos ativos locais.
Dados desta terça-feira mostraram queda histórica na inflação ao produtor acumulada nos 12 meses até abril, bem como no IGP-M de maio, enquanto relatório do BC mostrou nova contração da oferta de crédito.
Na véspera, o dólar à vista fechou o dia cotado a 5,0116 reais na venda, com alta de 0,53%.